A ideia de criar a organização Veredas surgiu por uma concordância de ideias entre eu e a Maira. Ambos acreditam na tecnologia como algo já intrínseco ao ser humano, e não como aparatos que não fazem parte da natureza. A tecnologia, querendo ou não, é natural e faz parte da natureza.

Existem diversas teorias que embasam essas crenças, como Inteligência Ambiental (ouAmbient Intelligence) e Próxima Natureza (ou Next Nature). Ambas estão casadas com a ideia que o homem, definitivamente, mudou o contexto físico em que vive, trazendo novos conceitos e novas formas de interagir com o que já existia. São novas relações, novas verdades e, claro, novas ideias.

Na semana passada, conversei com a artista e pesquisadora Giselle Beiguelman, coordenadora também do Prêmio Sergio Motta de Arte e Tecnologia, sobre a minhapesquisa e o que ela acha do contexto atual em que vivemos com a influência das novas tecnologias. Ela, entre tantos assuntos, fez uma comparação interessante entre gerações para explicar as relações com a tecnologia e o computador.

A geração nascida entre as décadas de 60 e 70, para Giselle, é autodidata quando o assunto são as novas ferramentas. Naquela época, não existiam cursos, manuais, críticos ou qualquer outro tipo de formação para conseguir criar projetos ou desenvolver maquinários mais, digamos, digitais. Era tudo feito na unha, com suor e sorte.

Já a mais recente, nascida no final da década de 80, graças à proliferação e democratização da rede e da internet, possuía catálogos, diversos passo-a-passos, especialistas em tecnologias, milhares de páginas e blogs contando as experiências similares, redes sociais para pedir a ajuda a outros. Enfim, para os mais jovens, criar algo ficou muito mais fácil e prático.

Giselle levanta a ideia de que isso os torna, segundo o termo que ela usa, “tecnofágicos”. Eles conseguiram se apropriar da tecnologia de tal forma que se assimila ao fato de que a tivessem devorado e, como acreditam algumas comunidades canibais, absorvidos suas qualidades. 

"Ela sai devorando a tecnologia, reciclando, reprocessando e tem uma estética que eu acho muito particular, que vai aparecer no Metareciclagem, Gambiologia, vai aparecer no Jarbas Jácome, vai aparecer em um Fernando Rabelo, no trabalho com Arduinofazendo computador funcionar com borracha, tirar teclado e fazer funcionar como bombril – e é incrível porque funciona.”, conta Beiguelman na entrevista.